Gostaria de te fazer uma confissão. Estou neste momento, escrevendo estas linhas, um tanto quanto atordoado. Tento organizar algumas ideias, sem saber ao certo se o que vou escrever se trata de fantasia ou realidade. Se der uma olhada ao seu redor, talvez você me entenda e concorde comigo.
A humanidade passa por uma pandemia que, diante da nova topologia contemporânea, se mostra um surto sem precedentes. As ondas de impacto vêm e vão, trazendo ora esperança, ora inquietação.
O último artigo de Yuval Noah Harari no Financial Times nos mostra que as epidemias modernas não são mais forças incontroláveis da natureza. Harari diz que atualmente a ciência transformou estas adversidades em algo administrável, mas que traz novos problemas ainda mais complexos.
Além da pandemia em si, como uma espécie de efeitos colaterais do novo cenário mundial, temos (citando apenas um exemplo) a necessidade de equilibrar a vigilância sanitária com a liberdade econômica e individual. Estas e outras inúmeras variáveis devem ser balanceadas num sensível equilíbrio de forças e interesses nunca antes vistos pela humanidade. Um enorme desafio que hoje está a cargo dos nossos governantes. Um exercício que exige novas habilidades, que nem sempre é bem sucedido e que acaba deflagrando novas tensões.
A pandemia moderna mistura crises econômicas, sociais, ambientais e políticas, num caldo complexo e difícil de digerir.
‘Lockdowns’, ‘vírus mutantes’ e ‘operações de guerra’ retratariam um cotidiano digno da ficção de Isaac Asimov ou Arthur C. Clark. Mas são, agora, a nossa incrível realidade.
Ao mesmo tempo em que essa confusão global se desenrola, a mesma humanidade assolada pela peste moderna, acaba de dar um emblemático salto, cruzando fronteiras planetárias, alcançando novos mundos. Há quem diga que estamos iniciando, de fato, a colonização espacial.
No último dia 18 de fevereiro o rover Perseverance da agência espacial americana protagonizou cenas, no mínimo, espetaculares. Depois de ser lançado do Cabo Canaveral em 30 de julho e percorrer 7 meses de travessia pelo espaço, pousou em Marte. Escreveu mais um capítulo na exploração do planeta vermelho.
Enquanto isso, aqui na Terra, há apenas alguns dias, o protótipo SN10 da SpaceX, após o lançamento e vôo bem sucedidos, atingiu o solo, mas acabou explodindo. O engenheiro John Insprucker disse: “Tivemos, novamente, outro grande voo… só temos que trabalhar um pouco nesse pouso.”
Ao que parece, em pequenos e consistentes passos, as polêmicas predições de Elon Musk, feitas há pouco mais de uma ano, podem estar se aproximando da realidade. Ele declarou que tem planos de enviar 1 milhão de pessoas a Marte até 2050. E que pretende lançar três foguetes diários, criar muitos novos empregos e estrear uma nova economia espacial. É esperar para ver…
‘Colonização interplanetária’, ‘rovers marcianos’ e ‘nova economia espacial’ retratariam um cotidiano digno da ficção de Isaac Asimov ou Arthur C. Clark. Mas são, agora, a nossa incrível realidade.
Desde microorganismos que geram crises políticas à viagens interplanetárias que inauguram novas economias, é possível perceber que as mudanças do mundo estão além de nossa compreensão óbvia.
Por aqui, tento transformar as dúvidas da complexidade em otimismo.
Assumo (talvez junto com você!) a responsabilidade de desenvolver novas habilidades humanas para lidar com os novos futuros que nos estão batendo à porta. Cenários que não sabemos ao certo como serão, mas que podem ser construídos a partir da clareza de onde queremos chegar.
Photo by Mark Weaver