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#01 Malas Prontas

Finalizo minha bagagem levando muita curiosidade e questionamentos. Inúmeras perguntas para romper velhos padrões mentais e entender um pouco mais sobre as tecnologias aceleradas que estão redefinindo nosso mundo.
Muito em breve embarcarei para uma incrível aventura intelectual, da qual você é meu convidado especial. Serão mais de 50 palestras e exposições com as mentes mais brilhantes do planeta, nos 3 dias da primeira conferência global da Singularity University.
Embarque comigo nesta jornada para explorarmos juntos como será o futuro-próximo da humanidade.

São Francisco,
26 de agosto de 2016

Após muitas e cansativas horas de viagem, cheguei a São Francisco num dia típico de agosto. O Brasil ficava para trás, no espaço e no tempo.

Cheguei à uma cidade que respira ares multiculturais e recebe influência do mundo inteiro. Um cenário que testemunhou pontos importantes da contracultura e do desenvolvimento das revoluções tecnológicas que estamos vivendo. O berço das mais importantes empresas de tecnologia, cujas pequenas equipes desmontam mercados inteiros outrora soberanos e imponentes. Não haveria lugar melhor no mundo para investigar o futuro, através de um mergulho no Global Summit, o primeiro encontro mundial organizado pela Singularity University, uma organização que mescla ensino, inovação e tecnologias de crescimento exponencial para resolver os maiores desafios da humanidade.

Numa expedição desse tipo, cada segundo vale um insight e cada acontecimento de rotina oferece uma reflexão. De forma que a agenda abarrotada de compromissos intensifica as descobertas. Não há tempo a perder e, antes do evento principal começar em alguns dias, faço questão de me aventurar e buscar entender um pouco mais sobre este novo universo.

Encontro um grupo seleto de ex-alunos da SU (iniciais usadas pelos íntimos da Singularity University) no lobby do hotel da O’Farrell Street. São os Alumni, que formam uma das redes mais qualificadas do planeta. Uma conexão entre líderes e influenciadores dos mais diversos mercados relacionados à tecnologia. Todos ali se propõem a “impactar positivamente 1 bilhão de pessoas em 10 anos”. Os alunos assumem este desafio, e para isso passam por um criterioso processo de seleção para cursos e programas cujos tickets podem chegar a US$ 50.000,00 e que na sua versão executiva, de uma semana, tem filas de espera de até um ano.

Naquele ambiente informal, com sorrisos fáceis, tapinhas nas costas e abraços acalorados, típicos de pessoas que passaram juntas por grandes desafios, muitos estampam com orgulho um pin dourado com um brasão em forma de S na lapela. A energia é pulsante nos olhos daqueles agentes de transformação, que depois de suas experiências na Singularity University, são alçados à qualidade de heróis.

Uma hora de ônibus nos leva a uma encontro de mais incontáveis agentes ativos das tecnologias, que em algum dia do passado pareceram inalcançáveis. Cientistas e desenvolvedores que escreveram seus nomes na história compartilham o mesmo espaço e respiram os mesmo ares com outros meros mortais como eu.

Parece que ninguém ali tem tempo a perder e rapidamente somos convidados a entrar em um auditório, o ambiente principal da noite. Eu estava prestes a ver e ouvir os principais astros deste universo falando para uma plateia de seguidores em suas fantásticas e revolucionárias ideias.

Um desses astros é Ray Kurzweil. Um sujeito aparentemente normal, que seria confundido com um corriqueiro pai de família norte-americana. No entanto, quando sobe ao palco e profere palavras inspiradoras, a camada de normalidade evapora e dá vez a um renomado futurista, amplamente reconhecido pela comunidade científica mundial. Entre outras façanhas, é admirado pela autoria da Lei dos Retornos Acelerados — uma derivação da Lei de Moore.

A lei original, de autoria de Gordon Moore — conhecida por muitos envolvidos no mundo da tecnologia — é datada dos meados dos anos 1960. Reconhece um padrão de duplicação da capacidade de processamento computacional a cada 18 meses. Um gráfico de seu desenvolvimento forma uma curva exponencial que aponta para o infinito. Kurzweil, no entanto, identificou que este mesmo padrão de duplicação ocorre também em paradigmas baseados nas tecnologias da informação.

O maior desafio deste modelo é deixar para trás o antigo pensamento linear que governou nossos pensamentos na era industrial e perceber que o mundo contemporâneo está sendo regido pelo novo pensamento exponencial.

Um dos casos mais emblemáticos da tensão entre o pensamento linear e exponencial se deu nos anos 1990, durante o projeto de sequenciamento do genoma humano. O projeto, um dos mais ambiciosos da comunidade científica da época, estimava que seriam necessários 15 anos de pesquisa para sua conclusão.

No entanto, 7 anos se passaram e a equipe de cientistas havia sequenciado “apenas” 1% do genoma. O pensamento linear vigente na época induziu os mais pragmáticos a uma conta rápida, concluindo que seriam necessários 700 anos para concluir os 100% do projeto.

Eis que surge Mr. Kurzweil afirmando categoricamente que o projeto havia percorrido metade do caminho. Uma surpresa para todos. Segundo sua Teoria dos Retornos Acelerados, as informações resultantes do início do projeto escalariam seu desenvolvimento numa curva exponencial. Seria necessário, portanto, somente duplicar por sete vezes o resultado daquele momento até conseguir o resultado final. Ou seja, as informações dobrariam na sequência 1, 2, 4, 8, 16, 32, 64, 128 alcançando os 100% do sequenciamento.

A confirmação se deu em 2001, quando o projeto foi concluído, totalizando 11 anos de trabalho, 4 a menos que o prazo inicialmente estimado. Graças às propriedades exponenciais das tecnologias da informação.

E como cada vez mais o ser humano conseguirá gerar mais informação e conhecimento por meio destas tecnologias, alcançaremos mais desenvolvimento, que trará mais informação e conhecimento, e assim por diante. Um ciclo virtuoso, cujo cada passo elevado ao quadrado, nos fará chegar à tal singularidade, com uma revolução ainda maior do que estamos testemunhando.

Singularidade: Momento no qual a humanidade atravessará um estágio colossal de avanço tecnológico impactando drasticamente os rumos da civilização.

Voltando ao auditório em San Francisco e após as proféticas e desconcertantes palavras de Ray Kurzweil, a platéia tem finalmente a oportunidade de conhecer os 79 formandos da 16ª edição do GSP — Global Solutions Program. Um programa de 10 semanas de duração, um dos mais intensos e transformadores da instituição.

Estavam presentes todos os alunos que passaram por uma concorridíssima aplicação e dispuseram de suas inteligências ímpares para mergulhar nas tecnologias exponenciais. Se propuseram a enfrentar os maiores desafios globais para impactar massivamente a sociedade. Apresentariam em instantes os projetos desenvolvidos ao longo do curso. Dignos da ficção científica, seriam abordados assuntos como inteligência artificial, robótica, big data, bioengenharia, bioinformática e exploração espacial.

Com dezenas de nacionalidades presentes nos cursos da SU, o Brasil normalmente tem uma excelente representatividade entre seus alunos, ficando atrás apenas dos norte-americanos. A 16ª turma do GSP, no entanto, contou com apenas um brasileiro ilustre que fez parte da equipe que protagonizou a noite.

Estamos falando de Alex Paris, paulista nascido em São Bernardo, formado em Gestão Ambiental e com diversas especializações em Energias Renováveis. Alex se juntou a um engenheiro aeroespacial espanhol e a um indiano especialista em nanotecnologia e apaixonado pelo espaço. Um time multicultural e transdisciplinar.

Juntos eles revisitaram o conceito de um cientista chamado Peter Gleser, que remonta aos anos 1960. Esse conceito inicialmente sugere o envio de painéis solares para o espaço. Num ambiente onde não há noite e portanto com maior potencial de geração de energia, esta seria transferida para a Terra através de micro ondas.

Alex e seus amigos então simplificaram o processo. Em vez de enviar pesados e custosos painéis geradores de energia solar para além da gravidade terrestre, eles aproveitariam as regiões tropicais de nosso planeta que já contam com uma grande produção de energia solar.

A ideia seria criar refletores — muito mais leves e baratos que os painéis geradores — que seriam dispostos no espaço para, também através de micro ondas inofensivas à qualquer tipo de vida, refletir o excedente destas regiões de alta produção para regiões (entre aspas) “solarmente” menos favorecidas.

Fim da sessão preliminar. Uma intensa, inspiradora e desconcertante amostra do que ainda viria pela frente. Fui dormir com uma fumacinha saindo do cérebro, mas com um sorriso bobo no rosto e ansioso pelos próximos acontecimentos. Experimentei uma infinidade de coisas nas primeiras 24 horas e no entanto o evento principal ainda nem tinha começado…


Colaboraram:
Francisco Milagres e Marconi Pereira
– Co-founders SingularutyU Brazil Summit

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