Há uma percepção geral de que a inteligência artificial (IA) poderá extinguir uma série de profissões num futuro relativamente próximo. Existe também ideia de que as IAs simplificarão muitas atividades.
Porém, um estudo da pesquisadora Bárbara Ribeiro da Universidade de Manchester revelou que em vez da IA simplificar os trabalhos do futuro, acabará por deixá-los mais complexos.
Ribeiro e seus colegas pesquisadores estudaram o trabalho de cientistas envolvidos no campo da biologia sintética, cujos experimentos dependem da utilização de plataformas robóticas avançadas, os quais, por sua vez, geram enormes quantidades de dados digitalizados.
A partir dessa situação, esperava-se que os cientistas fossem poupados e pudessem focar nas questões mais importantes. Contudo, o estudo de Bárbara constatou que o uso das plataformas robóticas acabou por ampliar e diversificar os tipos de tarefas que os pesquisadores tinham que realizar.
A principal razão é que a automação gerou um volume maior de dados, levando a um número maior de hipóteses científicas a serem testadas. Além disso, os robôs precisavam ser “treinados” para realizar experimentos antes feitos manualmente. Por sua vez, os humanos também precisavam desenvolver novas habilidades para consertar e supervisionar os robôs, a fim de prevenir erros no processo científico.
Apesar do estudo ter sido direcionado a cientistas, é possível que essas lições também se apliquem a outras áreas profissionais.
No caso do ChatGPT, o chatbot com inteligência artificial “aprende” com as informações disponíveis na web, e oferece respostas que parecem bem elaboradas e convincentes.
No entanto, segundo a revista Time, para que o ChatGPT não gerasse respostas racistas, sexistas ou ofensivas de forma geral, trabalhadores no Quênia foram contratados para filtrar o conteúdo tóxico veiculado pelo bot.
Existem muitos trabalhos “invisíveis” que são necessários para o desenvolvimento e manutenção da infraestrutura digital. Esse fenômeno pode ser descrito como um “paradoxo da digitalização”, um contraponto à suposição comum de que todos os envolvidos no mundo digital se tornam mais produtivos ou têm mais tempo livre quando partes de seu fluxo de trabalho são automatizadas.
Aparentemente, isso nem sempre é a regra, mas as preocupações com o declínio da produtividade são uma das principais motivações por trás dos esforços organizacionais e políticos para automatizar e digitalizar o trabalho diário.
Portanto, é importante refletir sobre como medimos a produtividade, contando também as tarefas invisíveis necessárias, sem deixar de considerar ainda como projetar e gerenciar esses processos, para que a tecnologia possa agregar positivamente a todas as pessoas.