As organizações têm se dedicado cada vez mais à diversidade, acreditando nos benefícios de uma força de trabalho plural e na luta coletiva contra a discriminação. Porém, é preciso ter cuidado para evitar um ponto cego nessas iniciativas bem intencionadas. Muitas vezes, elas se baseiam na suposição de que certos grupos são desprotegidos e precisam da assistência daqueles em posição de poder. Essa mentalidade protecionista pode resultar na marginalização do bem, quando boas intenções acabam causando danos.
A marginalização do bem ocorre quando um grupo dominante controla, de forma paternalista, um grupo mais vulnerável. Apesar das ações aparentemente positivas em auxiliar esses grupos, um sutil desequilíbrio de poder persiste. É possível até que o grupo dominante espere gratidão e senso de dívida dos mais vulneráveis, inibindo a expressão de opiniões discordantes.
Um exemplo comum é o “sexismo do bem”. Mulheres podem ser poupadas de decisões difíceis sob o pretexto de protegê-las. No entanto, essa atitude reforça estereótipos e mina a confiança delas na organização. Além disso, muitas iniciativas para combater a desigualdade de gênero enquadram as mulheres como um grupo homogêneo, sem levar em conta suas características individuais. E o mais irônico é que a maioria dessas iniciativas é liderada por homens.
Outro problema surge no “capacitismo do bem”, quando comportamentos bem intencionados envolvendo pessoas com deficiência podem se tornar problemáticos. Gerentes impõem seus próprios preconceitos, acreditando que estão criando um ambiente “inclusivo” para esses indivíduos. No entanto, muitas dessas iniciativas são baseadas no sentimento de “pena” e, para garantir “proteção”, trabalhadores com deficiência são poupados de atividades desafiadoras e de contato com públicos mais difíceis. Mais uma vez, o enquadramento homogeneizado é um obstáculo a ser superado.
Para criar ambientes de trabalho verdadeiramente inclusivos, é necessário repensar a abordagem tradicional de ajuda. Os responsáveis por essas iniciativas devem enxergar os mais vulneráveis como iguais, promovendo uma mudança de abordagem: do protecionismo à autodeterminação. Isso envolve novas perspectivas pessoais dos próprios gerentes. Além disso, é essencial garantir que as pessoas pertencentes a esses grupos tenham liberdade para expressar seus desconfortos e expectativas. A verdadeira mudança só ocorrerá quando construída em conjunto, evitando uma abordagem verticalizada.