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#03 A Travessia


São Francisco,
29 de agosto de 2016

Da mesma forma que as noites terminam tarde, os dias começam cedo na Singularity University. Os mais experientes e veteranos costumam fazer, inclusive, um trocadilho com as famosas iniciais SU, chamando a instituição carinhosamente de “Sleepless University” (algo como “universidade que não dorme”).

De fatos, todos já estavam bem despertos após os workshops e atividades matinais, que ocorriam ao longo do horário do café da manhã. Tudo para abastecer e aquecer as mentes para mais uma etapa da aventura pela singularidade.

Após as mensagens sobre abundância e otimismo proferidas por Peter Diamandis no primeiro dia do evento, uma visão mais pragmática sobre a o futuro a ser moldado pelas tecnologias exponenciais veio através das palavras de Salim Ismail, um dos fundadores e também embaixador global da Singularity University. Salim, nascido em Hyderabad, Índia, é considerado por muitos como um dos homens mais inteligentes do mundo. Além das preocupações com direitos humanos, violência contra as mulheres, justiça racial e direitos dos imigrantes, se autodeclara apaixonado por negócios, empreendedorismo e tecnologia. No passado recente foi vice-presidente do Yahoo, e teve sua empresa Angstro vendida para o Google em 2010.

É um exímio estrategista, bacharel em física teórica, engenheiro de softwares e autor do best seller “Organizações Exponenciais”, no qual traz para o campo prático das empresas os modelos que podem torná-las 10 vezes melhores, mais rápidas e mais eficientes. Uma promessa ousada, mas que se torna incrivelmente coerente quando Salim expõe suas linhas de raciocínio.

Um pensamento estruturado em metodologias e diagramas que convencem até os mais céticos. Reforça seus argumentos de que as grandes e pesadas corporações estão sendo ameaçadas por pequenos grupos de jovens reunidos em garagens escondidas em qualquer lugar do mundo. Profundo conhecedor do mercado emergente, Salim traz à tona um padrão identificado nas ágeis startups que surfam na velocidade da tecnologia e que vêm deixando para trás os executivos da velha economia linear.

MTP = MASSIVE TRANSFORMATIVE PURPOSE

S. Staff on Demand
C. Communitty & Crowd
A. Algorithms
L. Leveraged Assets
E. Engagement

I. Interface Processes
D. Dashboards
E. Experimentation
A. Autonomy
S. Social Technologies

Segundo ele, quase que invariavelmente os grupos, disruptores do velho e desbravadores do novo — intimamente chamados de Organizações Exponenciais -, são movidos por um “Propósito Transformador Massivo”. Ou seja, os novos atores do mercado não pensam pequeno. Pelo contrário, assim como a própria SU, pensam grande, nas escala de bilhões.

Em sua obra intelectual cita organizações como TED — “Ideias que merecem ser espalhadas” -, Google — “Organizar a informação do mundo”- e X Prize Foundation — “Promover avanços radicais para o benefício da humanidade” — evidenciando um modelo muito mais aspiracional que há alguns anos. Todas estão em busca da transformação massiva.

Salim, de forma didática e estruturada oferece suas visões sobre a criatividade, o crescimento e as incertezas do cenário social e econômico que estamos passando. Mas, ao melhor estilo Singularity University, observa o lado abundante destes cenários e traz contrapontos para a ordem, controle e estabilidade.

Ao final da fala de Salim Ismail, a curva exponencial aplicada às empresas e organizações satisfazem, e muito!, os homens de negócio ali presentes. Tudo parece fazer mais sentido quando se percebe que o mercado está em transformação. Um aquário onde não serão os peixes grandes que comerão os peixes pequenos, mas os peixes rápidos que comerão os peixes lentos.

Seguimos todos a jornada do evento, que mais uma vez se desdobrou em trilhas paralelas com variadas opções de aprofundamentos, cases, tecnologias do futuro e oficinas práticas. Um turbilhão de novos insights atropela mais uma vez a audiência.

A lista de assuntos parece caminhar também rumo ao infinito e parece não se esgotar. Nas salas contíguas reuniam-se pessoas para discutir assuntos que iam desde o futuro da biologia e dos alimentos até a vida em companhia de robôs.

Foram expostos os novos rumos das cidades, carros autônomos que já circulam em nossas vidas, o atendimento aos consumidores na era digital e até uma pincelada inicial sobre manufatura extraterrestre. Afinal a exploração espacial está em curso avançado e já tem muita gente boa pensando os novos paradigmas industriais vindos de além órbita.

Foi dia também de conhecer outros projetos premiados pelo Global Grand Challenge Awards em mais algumas categorias, sempre buscando soluções para os maiores desafios da nossa civilização.

 Na categoria Alimentação, o projeto reconhecido com de maior impacto e relevância em escala planetária foi para a Harvesting. Numa demonstração do que pode nos oferecer a abundância, a proposta do projeto é oferecer inteligência agrícola (através da coleta de zilhões de dados) para que bancos e governos possam oferecer instrumentos financeiros acessíveis à uma massiva força de produção ainda adormecida de 475 milhões de agricultores.

Quando o assunto é Saúde, o reconhecimento vai para o pessoal da CaptureProof, que desenvolveu uma espécie de “câmera médica inteligente” que conecta médicos geograficamente distantes para o compartilhamento de narrativas visuais através de fotografias e vídeos. Tudo embalado num aplicativo para facilitar triagens e monitoramento dos pacientes.

Prosperidade também foi tema premiado no Global Summit e nesta categoria foi anunciada a vitória do Aipoly Vision. A missão dessa turma é colaborar com 285 milhões de deficientes visuais que têm suas capacidades de aprendizagem prejudicadas por conta de suas limitações visuais. Também em forma de aplicativo mobile e através de algoritmos de deep-learning, esta aplicação tem a capacidade de aprender conforme seu uso. Já são 100.000 pessoas utilizando esta Inteligência Artificial que se autodesenvolve com os dados visuais recebidos por câmeras de smartphones. Oferece ajuda e autonomia a quem precisa identificar objetos em sua rotina. E, como tudo na SU, este aplicativo tende a crescer e aprender de forma exponencial.

Dentre as propostas para projetos relacionados à Água, o destaque ficou para a FREDsense Technologies. Uma solução de engenharia genética que transforma bactérias em poderosos sensores para monitoramento da água. Se antes eram necessárias alguma semanas para alguns tipos de análise, o FREDsense promete as mesmas análises em apenas alguns minutos. Com um custo incrivelmente menor que as opções tradicionais, permite que todos saibam se água que estão consumindo é realmente limpa.

Mais um dia já estava prestes a se encerrar, mas para minha surpresa (mais uma!) acabei por descobrir que o termo “Moonshoting”, corriqueiro nas rodas singulares, era mais literal do que eu poderia imaginar.

Fui apresentado ao Google Lunar XPRIZE. Uma iniciativa que envolve cifras superlativas, distâncias astronômicas e desafios de tirar o fôlego. Um prêmio que incentiva empreendedores espaciais a desbravarem novas e mais baratas formas de acesso ao nosso querido satélite natural. As expectativas são de que em 2017 alguma das equipes competidoras consiga lançar um veículo projetado para se mover em terreno lunar e percorrer pelo menos 500 metros, enviando para a Terra imagens e vídeos em alta definição.

Parece que a época das grandes navegações está de volta, mas dessa vez para o infinito e além!


Colaboraram:
Francisco Milagres e Marconi Pereira
– Co-founders SingularutyU Brazil Summit

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