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#02 Iniciando uma Jornada


São Francisco,
28 de agosto de 2016

Acordei cedo e fui um dos primeiros a chegar no ambiente da conferência. Peguei minha credencial e iniciei a aventura, percorrendo uma área de convivência, ainda vazia, mas que muito em breve iria reunir representantes de empresas, organizações e iniciativas dispostas a resolver os grandes desafios globais através de tecnologias emergentes. Estariam ali expondo os projetos finalistas em 12 categorias que compunham o primeiro Global Grand Challenge Awards.

Global Grand Challenge Awards: Prêmio concedido pela Singularity University a projetos que ofereçam soluções para os grandes desafios globais, em 12 categorias: Educação, Energia, Meio Ambiente, Habitação, Alimentação, Saúde, Prosperidade, Segurança, Água, Exploração Espacial, Resiliência e Governança.

Aos poucos o ambiente foi se enchendo, enriquecendo cada vez mais aquele ecossistema com outras disciplinas, outras nacionalidades e novos olhares. Quando o salão principal Grand  Ballroom foi aberto, já havia centenas de pessoas, ávidas como eu, pelo início oficial do evento.

Will Weisman, diretor executivo da Singularity University e mestre de cerimônia, subiu ao palco sob aplausos entusiasmados do público. A ovação aumentou subitamente quando foi anunciado o grande nome do dia: Peter Diamandis. Traria sua visão de como transformar escassez em abundância.

Diamandis é um médico, engenheiro, físico e empreendedor grego–americano. De baixa estatura mas com uma enorme vitalidade que se materializada em suas palavras.

Peter é um otimista. Tem visões muito positivas sobre o presente e sobre o futuro. Começa seu discurso percebendo o enorme potencial tecnológico e intelectual que estava, por exemplo, reunido naquele momento, naquele auditório.

Defende a ideia de que a escassez global é contextual, que depende do ângulo que o cenário é analisado e prossegue apresentando gráficos desconcertantes que ilustram a diminuição da pobreza, do terrorismo, e da morte por desastres naturais, desastres aéreos e automobilísticos, ao mesmo tempo em que cresce o número de governos democráticos no mundo e a expectativa de vida. Traz, portanto, à tona alguns exemplos que nos fazem perceber que o mundo na verdade pode não estar tão ruim quanto muitos imaginam.

Continua sua explanação creditando esses cenários em primeiro lugar ao crescimento exponencial e democratização das tecnologias. Via de regra, as novas tecnologias chegam de forma sorrateira e quase sempre são desacreditadas pelo mercado. Nos iludimos pelo alto custo no início de suas trajetórias, mas nos surpreendemos quando se democratizam e tornam-se ridiculamente baratas.

Como referência não custa lembrar que o smartphone que você carrega hoje no bolso tem mais poder de processamento (e uma fração do preço) que o computador de bordo do foguete que levou o homem à lua em 1969. Diamandis no mostra que no ano 2000 o custo para lançar uma startup chegava a US$ 5 milhões e hoje, apenas 16 anos depois, desenvolvedores iniciam suas próprias empresas com apenas 0,1% deste valor. Algumas vezes, inclusive desestabilizam mercados inteiros com seus novos produtos.

Ressalta o enorme poder contido em cada indivíduo do planeta, e que somados podem gerar uma gigantesca revolução. A conexão e a colaboração, segundo Diamandis, formariam o segundo ponto para a abundância que vivemos. Ele defende o conceito do “Rising Billion”, segundo o qual, em 10 anos teremos todos os habitantes do planeta conectados entre si e também plugados a mais de um trilhão de dispositivos geradores de dados. Basicamente todos os objetos conhecidos estarão conectados à rede. Não teremos a “Internet of Things” (Internet das Coisas) como especula-se hoje em dia, mas algo muito mais impactante, que ele denomina “Internet of Everything” (Internet de Todas as Coisas). Serão bilhões de mentes em rede, abastecidas por dados transbordantes, para criar, descobrir, consumir, inventar e desenvolver soluções para os desafios da humanidade.

A apresentação termina e todos ali estão seguros de que (segundo palavras do próprio Peter Diamandis)  “estamos no melhor momento para se viver”.

Na mente dos presentes, fica definitivamente estampado o mantra gráfico do movimento singular, a surpreendente Curva Exponencial.

O dia segue com inúmeras atrações paralelas, fazendo jus à toda abundância pregada nas palestras principais. O fluxo narrativo da conferência se divide em mergulhos profundos sobre temas específicos, cases com histórias inspiradoras de sucesso e impacto real, atualizações sobre tecnologias disruptivas e até mesmo workshops práticos onde os participantes podem arregaçar as mangas e colocar a mão na massa. Sempre capitaneados por renomados representantes do universo das tecnologias exponenciais

Os temas do primeiro dia vão desde A Revolução da Inteligência Artificial, oferecido por Neil Jacobstein – membro de destaque da comunidade SU, renomadíssimo precursor da Inteligência Artificial e conselheiro de startups, empresas e governos – passando pela Robótica, trazida por Rob Nail, outro membro ilustre, fundador associado e diretor executivo da Singularity University e que atua de frente nos mais diversos fóruns de inovação global.

Outros temas, tão intrigantes quanto, são tratados com naturalidade, embora sejam arautos de grandes transformações: carros autônomos, exploração espacial, computação quântica e longevidade.

Uma overdose de informação, uma enxurrada de conhecimento muitas vezes difícil de um leigo entender e que nos faz viajar para outras realidades. Mas eis que são apresentados alguns dos vencedores do Global Grand Challenge Awards que nos trazem de volta à realidade, comprovando que tudo ali tem sim, uma aplicação muito prática e real no mundo contemporâneo.

Na categoria Governança, que reconhece iniciativas que defendem a justiça e direitos democráticos, o troféu foi para Democracy Earth, que sugere o uso do conceito computacional blockchain para a criação de um modelo totalmente transparente de governança. Se autodenominam um nova jurisdição mundial, onde grupos podem usufruir de suas soberanias, de forma descentralizada e sem fronteiras.

O prêmio para projetos de Resiliência, que aborda soluções para desastres, que ajudam em emergências ou que salvam vidas vai para a equipe GeoCosmo. Através de sofisticadas medições de íons no ar, tiveram êxito ao prever 20 terremotos desde 2015. Sua missão? Atender 2 bilhões de pessoas que vivem em regiões altamente sísmicas e salvar pelo menos 10.000 vidas por ano.

Para soluções orientadas ao Meio Ambiente, o destaque foi para a empresa BioCarbon Engineering que se propõe a plantar 1 bilhão de árvores por ano com auxílio de drones para reconstruir os ecossistemas globais, combater as alterações climáticas e fornecer melhores condições sociais para milhões de famílias.

A quarta entrega, para o melhor projeto na categoria Energia foi oferecido à HST Solar, que usa poderosos algoritmos para otimizar sistemas solares fotovoltaicos, maximizando lucros e minimizando os custos de eletricidade em nível mundial.

O dia estava prestes a terminar dentro do salão principal do evento. Após uma saraivada de novos conceitos, ideias mirabolantes e projetos de impacto massivo, uma salva de palmas acalorada indicava que ainda existia muita energia entre os presentes. O tempo realmente parece ter um outro significado para os singulares. A noite ainda prometia novas experiências. Um jantar para todos os participantes, o que seria o momento perfeito para o novas conexões e compartilhamentos de insights. E claro, muito networking e parcerias em novos negócios que se fechavam com uma rapidez espantosa entre brindes e celebrações.

Tudo na Singularity University parece avançar na velocidade da luz.


Colaboraram:
Francisco Milagres e Marconi Pereira
– Co-founders SingularutyU Brazil Summit

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