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A Nova Imprevisibilidade Global

Em 1998 a ponte Sol Nascente sobre o Rio Choluteca, em Honduras, manteve-se firme mesmo após a passagem do furacão Mitch. Esforços do governo local haviam construído uma estrutura capaz de resistir aos ventos de 155 milhas por hora. Para espanto de todos, no entanto, o leito do rio mudou seu curso após o furacão. A ponte sobre o Rio Choluteca tornou-se obsoleta. Ficou conhecida como a “ponte que liga o nada a lugar nenhum”. A robustez de suas estruturas não resistiram à rápida mudança no ambiente. Hoje nos traz lições sobre a imprevisibilidade nos negócios, nas organizações, na vida.

Assim como o furacão Mitch, a imprevisibilidade global chegou. Não exatamente como uma surpresa, afinal há muito se fala das forças de influência que poderiam, num estalar de dedos, transformar dramaticamente nossas realidades. O avanço tecnológico tornou o mundo mais veloz e totalmente conectado. Trouxe uma onda de mudanças, envolvidas na incrível complexidade, a marca registrada dos novos tempos. Os impactos globais da pandemia, em algum aspecto fruto dessa complexidade, desvendou pontos sensíveis de nossas estruturas. E também abriu espaço para acelerarmos a transformação digital nas empresas e buscar o desenvolvimento das capacidades humanas dos colaboradores.

Ponte sobre o Rio Choluteca. Photo by Twiiter / Reprodução


– As Organizações Humanas

A mudança do ambiente nos fez questionar algumas verdades absolutas. Organizações consolidadas, diante da impossibilidade de ofertar seus produtos e serviços de rotina, buscaram suas verdadeiras essências. Enxergaram com mais nitidez sua função no contexto social. Confrontaram um modelo vigente desde as décadas de 1980/90 conhecido como Supremacia do Acionista e perceberam a importância das pessoas além do lucro. As crises recentes confirmaram a importância de um propósito genuíno para orientar entregas de valor. Consolidando, a partir daí, a busca por organizações mais humanizadas. 

– Da Eficiência Escalável para a Aprendizagem Escalável

Fórmulas prontas e processos rígidos não atendem às novas dinâmicas. A flexibilidade e adaptação são as novas palavras de ordem num ambiente mutante. Lang Davison, autor de The Power of Pull, defende há alguns anos que, diante das transformações contemporâneas, as instituições outrora projetadas para ‘eficiência escalável’, deverão se tornar instituições projetadas para ‘aprendizagem escalável’. Entendendo ainda que este movimento deve acontecer de forma distribuída (e não hierárquica), os líderes institucionais devem voltar sua atenção não mais somente à resultados de performance. Devem focar seus esforços para a construção de ambientes de segurança psicológica onde seus colaboradores possam exercer o papel de agentes da mudança. Organizações Humanas exigem líderes humanizados e empáticos. Como diz Simon Sinek: “O verdadeiro trabalho de um líder não é ‘estar no controle’. Mas é ‘cuidar’ de quem está sob seu comando”.

– A Unidade Mínima de Transformação

Agentes da mudança distribuídos por toda a organização, em ambientes psicologicamente seguros, serão capazes de modelar um organismo mais ágil e adaptável às irrefreáveis transformações do ambiente. Neste contexto, colaboradores poderão assumir um novo tipo de autonomia, sendo capazes de tomar novas decisões no dia-a-dia. Deverão assumir um papel de auto responsabilidade e protagonismo para  desenvolverem o pensamento crítico e a compreensão do contexto de modo mais amplo e complexo. Deverão ser mais generalistas e desenvolverem a capacidade e disposição para assumir riscos e tomar decisões. Deverão exercitar a flexibilidade cognitiva para abandonar o que já sabem. Deverão se abrir para novos ciclos de aprendizagem e ação. Para que se tornem, efetivamente, as unidades mínimas de transformação de suas organizações.

– Um Novo Olhar Prospectivo

Num mundo em transformações e de altíssima complexidade, as possibilidades de futuros são infinitas. Deixar de lado a reatividade aos fatos e assumir a proatividade quanto aos cenários que poderão vir, será uma forte habilidade para instituições, líderes e agentes da mudança. Não exatamente a busca pela precisão sobre o que vai acontecer. Mas a preparação para as inúmeras possibilidades do que possa vir a existir. Desta forma estaremos todos mais preparados. Poderemos, não lutar contra as transformações, mas abraçar verdadeiramente a mudança.


Photo by Metamorworks / Getty Images

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